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GERONTOTECA: O olhar terapêutico do Brincar para a Pessoa Idosa

Atualizado: 17 de ago. de 2023


Anderson Amaral1

Adriana Limeira do Nascimento2

Bruno Trindade3



[1] Anderson Amaral: Profissional de Educação Física, Arteterapeuta, Brinquedista, Mestre em Gerontologia e Pós-graduando em Geriatria e Gerontologia. Membro do CEBI.


2 Adriana Limeira: Terapeuta Ocupacional, Arteterapeuta, Brinquedista, Especialista em Saúde Mental e Especialista em Saúde Pública.

3 Bruno Trindade: Atua como Técnico Superior em Mediação e Animação Socioeducativa no Agrupamento de Escolas Nuno Álvares e é investigador nas áreas das crianças e idosos. Doutor em Ciência Sociais e Educativas na Universidade de Salamanca. Mestrado em Animação Artística na IPCB - Escola Superior Educação. Licenciatura em Animação Cultural/Sociocultural na IPCB-Escola Superior de Educação. Pós-Graduação em Gerontologia Social (IPCB, Escola Superior Educação).



O envelhecimento é um processo fisiológico que acomete todos os seres humanos e não deve ser encarado como patologia, mas como parte de um ciclo natural da vida que se caracteriza por múltiplas alterações como as físicas e cognitivas. Não é linear, pois cada pessoa envelhece de forma diferente e interage com esse processo de maneira singular. Essas variações são dependentes de fatores como estilo de vida, condições socioeconómicas e doenças crónicas. As variáveis biológicas, psicológicas e sociais relacionadas com o processo de envelhecimento são objeto de estudo de diversas áreas da gerontologia (AMARAL, LIMEIRA, OHY, 2019, p. 70).


Na perspectiva de um olhar mais amplo sobre as múltiplas variáveis que podem acometer o processo de envelhecimento, a formação de uma equipa interdisciplinar surge como alternativa de melhor qualidade de vida, saúde para os idosos e diálogo entre os profissionais. A interdisciplinaridade implica a interação das diversas disciplinas que possibilitarão um enfoque holístico no que tange à melhoria da qua- lidade de vida da população idosa. Ter um olhar isolado em relação à saúde do idoso é deixar de lado um conjunto de questões que estão intimamente relacionadas com seu processo de vida, que os aspetos so- ciais, emocionais, culturais e ambientais se refletem diretamente no estilo de vida, contribuindo significativamente para os aspetos biológicos (PAIXÃO JUNIOR, 2018, p.21).


Na busca pela ampliação de possibilidades para o idoso, o trabalho interdisciplinar surge como uma importante estratégia para o cuidado da saúde geral do idoso, pois a partir do trabalho interdisciplinar ele passa a ser visto sob diferentes fatores que ganham uma significativa importância neste momento, considerando todas as va- riáveis sob múltiplos olhares. Questiona as fronteiras profissionais desafiando o profissional a dialogar com diferentes saberes e, dessa forma, reforça o caráter democrático dos serviços e promove um cuidado sistematizado. Perante esta realidade, o cuida- do realizado ao idoso envolve o próprio, a sua família, profissionais e a comunidade na qual ele vive, seja ele residente em domicílio ou em institucional de longa permanência para idosos (NASCIMENTO; ANDRADE, 2019, p.177).


A instrumentalização da equipa multidisciplinar é fundamental nesse processo, fomentando a materialização de uma atmosfera plenamente motivadora, agradável e desafiadora para que toda a equipe se sinta satisfeita em executar os seus processos terapêuticos sem deixar de lado o pensamento coletivo que tão significativo é para a saúde do idoso. Especialmente nos serviços de atendimento aos idosos hospitalizados ou institucionalizados. A elaboração de plano terapêutico é fundamental para diálogo entre as equipe otimizando os resultados das intervenções.


As dificuldades apresentadas pelos idosos, segundo Penkal et al. (2016), nas atividades quotidianas de trabalho e de lazer, podem ser decorrentes de múltiplos problemas de saúde. A situação de vulnerabilidade social pode agravar o desempenho físico, mental e social. As políticas públicas devem contribuir de forma efetiva para promover o processo de envelhecimento com qualidade devida e saúde. Há necessidade de iniciativas dos setores públicos e privados que venham a contemplar a população idosa, nomeadamente os institucionalizados e/ou hospitalizados. Especialmente intervenções não farmacológicas.


Além do tratamento farmacológico, é recomendado também que o idoso receba tratamentos não farmacológicos. A estimulação constante do idoso com atividades físicas e cognitivas, participação em atividades sociais com outras pessoas, exercícios de memória, atividade física e mesmo afazeres domésticos são estratégias relevantes na melhoria de sua qualidade de vida e saúde. Como tratamento não farmacológico, tem sido difundida a abordagem da estimulação cognitiva e motora com atividades lúdicas em equipas interdisciplinares. A proposta é a estimulação utilizando o recurso da ludicidade, onde podem ser incluídos vários tipos de dinâmicas, jogos cognitivos e brincadeiras psicomotoras. Os jogos com multiplicidade de recursos interativos apresentam bons resultados na autoestima do idoso e auxiliam na melhoria das funções cognitivas (AMARAL; OHY; NASCIMENTO, 2019).


Nesta perspectiva de estimular as funções cognitivas e motoras, assim como a socialização do idoso, surge a Gerontoteca como um espaço de estimulação, ludicidade e humanização em instituições de longa permanência para idosos e hospitais. A Gerontoteca apresenta um olhar no âmbito hospitalar, atendendo os serviços de ambulatório e/ou enfermarias dos idosos, mas também contemplar idosos institucionalizados. A criação desses espaços possui objetivos de proporcionar a melhoria de qualidade de vida, bem-estar físico, psíquico, social e, principalmente, humanização e estimulação por meio de recursos como a arte, musicalização, educação, ludicidade e dos jogos cognitivos (AMARAL;NASCIMENTO, 2018, p.109).


A Gerontoteca possibilita o trabalho interdisciplinar, com a interação dos diversos profissionais da equipe. O cuidado com o idoso impõe desafios aos profissionais, que precisam de ter habilidades plurais para lidar com situações variadas. Para uma intervenção bem sucedida é necessário o trabalho interdisciplinar. Através da troca dos saberes, permite a atuação sob o olhar terapêutico, peda- gógico, sociale recreativo.


A Gerontoteca vem de encontro às necessidades e à lacuna a ser preenchida nas ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos no Brasil), pois muitas instituições não possuem espaços de estimulação, ludicidade e atividades para os idosos. Nos ambientes hospitalares, muitos possuem brinquedotecas destinadas aos pacientes da pediatria, mas poucos possuem ambientes destinados a estimulação de adultos e idosos (AMARAL; NASCIMENTO, 2019).


Um modelo de Gerontoteca é a localizada no Lar São Vicente de Paulo, no Município de Salgueiro/PE, Brasil, que contempla idosos institucionalizados. Foi criado um local específico para as atividades, aberto a todos (idosos, cuidadores, profissionais e visitantes) sempre sob a supervisão de dois membros da equipe multidisciplinar. Lá é possível encontrar diversos jogos, recursos múltiplos e materiais devidamente organizados em caixas etiquetadas, separando os jogos e materiais de acordo com a sua classificação. Há também espaço destinado a tecnologia permitindo o acesso do idoso ao computador e tablet. O lúdico utilizado como recurso do cuidado, gera movimento à ILPI, tornando-a uma experiência singular, sendo possível reforçar laços afetivos entre cuidador e idosos, assim como entre os próprios idosos e familiares.


Associar a estimulação cognitiva e a ludicidade dos jogos, dinâmicas e brincadeiras, promove além da melhoria cognitiva, o bem estar físico, mental e social. Essas atividades são capazes de promover um ambiente planejado, motivador, agradável e enriquecido, possibilitando a aprendizagem de várias habilidades. Os benefícios também se repercutem no âmbito social, melhorando o desempenho funcional, mantendo e promovendo a independência, a autonomia dos idosos e melhoria da cognição social (AMARAL E OHY, 2019, 78).


O jogo como prática de saúde é uma temática que vem sendo discutida e pesquisada nos últimos anos. Os jogos podem ser usados como auxílio a tratamentos de maneiras variadas, conforme as necessidades dos pacientes. Podendo ser utilizados como intervenção na rotina de pessoas internadas ou em tratamento ambulatorial, não necessariamente como parte de um tratamento, mas aplicado como parte do cuidado e humanização (VASCONCELOS; CARVALHO; ARAÚJO, 2018).


Referências:


1. AMARAL, A.; Nascimento, A.L.; Ohy, J. Jogos Cognitivos aplicados aos idosos. Dignus: Revista técnica em geriatria e gerontologia. Portugal. N. 1, ano 1, 2º trimestre de 2019.

2. AMARAL, A.; Nascimento, A.L. Jogos de Estimulação Cognitiva e Motora. Rio de janeiro. WAK editora, 2019.

3. AMARAL, A.; Ohy, J. Aspetos cognitivos e motores do Parkinson. Revista Psique, n. 159, 2019. 72-79.

4. AMARAL, A. Nascimento, A.L. Ambientes de estimulação: Brinquedotecas e Gerontotecas, p. 109. In Amaral, A.; Ohy,J. Jogos Cognitivos um olhar multidisciplinar. Rio de Janeiro. Editora WAK, 2018.

5. AMARAL, A. Animação Sociocultural e Estimulação Cognitiva nos Lares. In Pocinho, R. Trindade, B. Diferentes perspectivas da animação e do envelhecimento. Portugal. Euedito,2018.

6. NASCIMENTO, A.L.; ANDRADE, A.C.I.C. Instrumentalização da equipe multiprofissional na estimulação cognitiva e motora em uma instituição de longa permanência para idosos no município de Salgueiro -PE: o olhar da Terapia Ocupacional. In. A Educação como Elemento Transformador do Trabalho em Saúde Formação em Saúde Pública no SUS em Pernambuco. Macedo, B.C.; Andrade, D.A.; Lemos, E.C. Pernambuco. Governo do Estado. Secretaria de Saúde. Recife: Secretaria de Saúde, 2019.

7. PAIXÃO JUNIOR, C.M. Avaliação funcional interdisciplinar: Princípios, p. 21. In Lourenço, R.A.; Sanchez, M.A.S.; Paixão Junior, C.M. Série Rotinas Hospitalares. Rio de Janeiro: Triunfal, 2018. Rotinas Hospitalares – Hospital universitário Pedro Ernesto; volume VI, pt. 1.

8. PENKAL, S. Souza; B.M.; Basi, E.R.; Andrade, A.G. Grupos de Convivência, p.43. In Campos, A,C,V.; Berlezi, E.M.; Correa, A.H.M. Teorias e Práticas socioculturais na promoção do envelheci mento Ativo. Ijuí RS. Editora Unijui,2016

9. VASCONCELOS, M.S.; Carvalho, F.G,; Araújo, I.S. O Jogo Prática de Saúde. Editora Fiocruz,2018.



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